Portugal: O Destino Mundial de Enoturismo num Mercado em Crescimento

Portugal: O Destino Mundial de Enoturismo num Mercado em Crescimento

23 Agosto 2023

Portugal é um país que ostenta o quinto maior território de vinhas plantadas na Europa e está classificado como o nono no mundo. No entanto, o que realmente destaca Portugal é a sua posição como o segundo maior destino mundial de Enoturismo, superado apenas pela Itália, e deixando para trás nações como Espanha, França, Nova Zelândia, Argentina e Austrália, entre outros.

Este setor, que gerou cerca de 9 bilhões de dólares em 2020 em todo o mundo, tem a previsão de atingir uma incrível marca de 30 bilhões de dólares até 2030. Se a atual trajetória continuar, Portugal poderá colher uma fatia considerável desse bolo, chegando a aproximadamente 2,1 mil milhões de euros.

 

Esta estimativa é fornecida pela Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO) e baseia-se na avaliação de 7,88 no índice de Portugal no estudo "Enoturismo - Dimensão Nacional e Europeia, 2022", conduzido pelo Turismo de Portugal. Esse índice coloca Portugal no segundo lugar entre os dez melhores destinos de enoturismo em todo o mundo, com a Itália liderando com um índice de 8,28. Seguindo a lógica da APENO, isso implica que dos quase nove bilhões de dólares gerados pelo enoturismo em 2020, as operações italianas contribuíram com 745 milhões, enquanto Portugal não ficou muito atrás, contribuindo com quase 700 milhões de dólares.

No entanto, apesar do sucesso do enoturismo em Portugal, há desafios a serem superados. Um dos principais obstáculos é a falta de dados confiáveis. Desde a sua criação em 2020, a APENO tem-se esforçado para criar uma classificação estatística adequada para o enoturismo, chamada de sub CAE (Classificação Portuguesa de Atividades Econômicas). Infelizmente, as tentativas recentes junto do Instituto Nacional de Estatística (INE) para criar esta classificação revelaram-se infrutíferas.

 

O INE justificou sua "impossibilidade de acolhimento" da proposta da APENO, alegando que, no setor do Enoturismo, assim como em outros setores do turismo, existem várias atividades distintas classificadas em diferentes secções da CAE, o que não está em conformidade com as regras de classificação estatística. A APENO, no entanto, argumenta que essa decisão viola o princípio da igualdade e prejudica as atividades de enoturismo em comparação com atividades de animação turística e turismo no espaço rural. Um parecer jurídico da Abreu Advogados apoiou essa visão, destacando que a interpretação do INE do Decreto-Lei 381/2007 estava em desacordo com os objetivos do regulamento comunitário 1893/2006.

Enquanto essa questão não é resolvida, os grandes produtores de vinho tomam medidas para integrar as atividades de enoturismo em empresas de animação turística. A APENO, que atualmente conta com 110 associados representando cerca de 70% do setor vitivinícola, teme que essa mudança faça com que eles percam ainda mais o controlo sobre os dados do setor.

A APENO já enviou todas essas informações ao novo secretário de Estado do Turismo, Nuno Fazenda, e solicitou uma reunião com o novo presidente do Turismo de Portugal, Carlos Abade, na esperança de encontrar uma solução para esses desafios. "Vamos tentar por todos os meios. Temos que conseguir alguma coisa. Se não for a sub CAE, ao menos que seja criado o Registo Nacional de Empresas de Enoturismo, a exemplo do que existe para os agentes de animação turística", defende Luís Sá Souto, vice-presidente da associação.

 

 

Grupo Bacalhôa:

O Grupo Bacalhôa, com seus impressionantes 1200 hectares de vinhas e uma faturação consolidada de 50 milhões de euros em 2022, é um destaque notável no cenário do enoturismo. Anualmente, atrai mais de 400 mil visitantes para suas adegas, museus e lojas de vinho em locais encantadores, como o Alentejo, a Península de Setúbal e a Bairrada. No final do ano passado, a empresa deu um passo adiante ao criar a Bacalhôa Enoturismo, SA, uma iniciativa que, embora o administrador Paulo Costa não especifique o valor exato, contribui significativamente para o grupo.

De acordo com Paulo Costa, a falta de informações precisas tem sido o principal desafio enfrentado pelo Grupo Bacalhôa no enoturismo. No entanto, ele destaca que essa atividade tem experimentado um crescimento constante, com impactos positivos nas regiões em que está presente. 2022 foi um ano excecional, e as perspetivas para este ano continuam promissoras.

 

Grupo Parras:

O Grupo Parras, proprietário da histórica Quinta do Gradil, que possui sete séculos de história no Cadaval, criou a Parras Eventos em 2015, não apenas por questões fiscais, mas também para melhor controlar suas atividades de enoturismo. Com um palácio do século XVIII na propriedade, restaurado com um investimento global de mais de um milhão de euros em 2018, o grupo atrai cerca de 15 mil visitantes anualmente. Isso ocorre graças a uma ampla gama de atividades, desde eventos corporativos até degustações, piqueniques e diversas experiências relacionadas ao vinho.

O enoturismo contribui com cerca de 10% das vendas totais do Grupo Parras, que também possui presença no Alentejo, com a Herdade da Candeeira, onde está a começar a receber turistas. Além dos visitantes locais, a Quinta do Gradil é especialmente atraente para turistas americanos, franceses e brasileiros, que apreciam a associação de Portugal com vinho de qualidade e boa gastronomia, além da vantagem de proximidade com Lisboa.

 

Sogrape:

A Sogrape, o maior grupo vitivinícola de Portugal, tem uma rica experiência de mais de cinco décadas no enoturismo, com um foco notável no vinho do Porto. Anualmente, as suas Caves Ferreira e Caves Sandeman, em Vila Nova de Gaia, bem como a Quinta do Seixo, no Douro, recebem cerca de 200 mil visitantes. As opções para os visitantes incluem desde degustações e harmonizações tradicionais até piqueniques nos vinhedos e programas de vindima.

O enoturismo da Sogrape é uma parte significativa de um grupo que abrange mais de 1600 hectares de vinhedos em 12 regiões vitivinícolas em cinco países. Em 2022, o enoturismo gerou seis milhões de euros para o grupo, que registou uma faturação total de 347 milhões de euros. A Sogrape possui 980 hectares de vinhas apenas em Portugal, abrangendo regiões como Vinhos Verdes, Douro, Dão, Bucelas, Alentejo e Ilha da Madeira, com investimentos futuros planejados para expandir ainda mais sua presença no enoturismo.

 

Global Wines:

A Global Wines, com suas três propriedades notáveis - Quinta de Cabriz, em Carregal do Sal, Quinta do Encontro, na Anadia, e a Casa de Santar, em Nelas -, e está se a preparar para investimentos significativos no seu setor de enoturismo. O CEO da empresa destaca que o enoturismo é uma atividade estratégica para a Global Wines, e estão comprometidos em criar riqueza, empregos e valorizar as regiões vitivinícolas.

 

O enoturismo já representa cerca de dois milhões de euros em faturação anual para a Global Wines e continua crescendo a taxas de dois dígitos. A empresa está particularmente entusiasmada com a criação de um wine center na Casa de Santar, que oferecerá uma variedade de experiências, desde compras até experiências gastronômicas e um pequeno hotel de charme para proporcionar aos visitantes uma experiência mais imersiva na vida vinícola. Este é um setor em ascensão, e a proximidade com Lisboa é uma vantagem adicional que atrai visitantes de todo o mundo.

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